domingo, 19 de março de 2017

FELICIDADE NO TRABALHO É POSSÍVEL?

Está difícil encontrar motivação para o trabalho? Saiba como descobrir felicidade na rotina, segundo o filósofo e professor Mário Sérgio Cortella

"Encontrar alegria na carreira é um sonho antigo da humanidade. O filósofo chinês Confúcio (551 a.C.- 479 a.C) já arriscava um plano: “Busque um trabalho que você ame, e nunca mais terá que trabalhar um dia em sua vida”.
No Brasil de 2016, o velho ideal parece especialmente distante. Combine crise econômica, instabilidade política, conflitos sociais e desemprego galopante, e está pronta a receita de veneno para a motivação de qualquer profissional.

Para o filósofo, educador e palestrante Mário Sérgio Cortella, os problemas conjunturais do país têm impacto inegável sobre a disposição do brasileiro para o trabalho. Mas o desânimo para levantar na segunda-feira de manhã também admite outras explicações, inclusive de natureza existencial.

Em entrevista exclusiva a EXAME.com, o estudioso discute os mecanismos por trás da motivação para o trabalho, o segredo para encontrar alegria na obrigação, entre outras questões centrais de seu novo livro, “Por que fazemos o que fazemos? ” (Editora Planeta, 2016).
Na conversa, Cortella desconstrói o mito de que rotina e felicidade não se misturam, mas dá um puxão de orelha nos jovens que só esperam fazer o que gostam em suas carreiras. “É preciso ter o prazer como uma das referências para o trabalho, mas não como referência exclusiva”, afirma. “Sempre é necessário um desgaste para que você atinja um resultado”.

Confira a seguir os principais trechos da conversa com o filósofo, em que ele diz o que pensa sobre temas como propósito, obsessão pela carreira e equilíbrio entre lazer e trabalho:
 
EXAME.com – Em seu novo livro, você discute uma das maiores fontes de mal-estar do mundo contemporâneo: a dificuldade de encontrar motivação para o trabalho. Essa é uma questão sentida especialmente pelos jovens?
Mário Sérgio Cortella – Antes de tudo, é preciso distinguir motivação e incentivo. Motivação é aquilo que move, que movimenta, como um motor. É, portanto, algo interno, precisa estar dentro de nós. É possível incentivar outra pessoa, dar estímulos. Mas não dá para motivá-la.
Hoje, o jovem tem esse “motor interno” pouco acelerado em relação ao trabalho. As gerações anteriores, ao contrário, viam no trabalho uma obrigatoriedade, porque não dava para viver sem trabalhar e era preciso começar cedo.
Acontece que, nas últimas décadas, o Brasil construiu condições econômicas mais sólidas e uma parcela das famílias decidiu que iria subsidiar a ausência de ganho dos seus filhos. Isso faz com que o jovem tenha uma motivação muito menor. Se eu tenho 18, 19 anos, por que investir na carreira, se posso dedicar o meu tempo ao lazer? Uma parte dos pais e mães enfraqueceu a formação dos filhos nessa direção. Sob o pretexto de poupá-los, produziu e produz um efeito que é danoso.
EXAME.com – E agora? O que faz um jovem ter disposição para acordar na segunda-feira de manhã e ir trabalhar feliz?
Mário Sérgio Cortella – Em primeiro lugar, o propósito. Ele só ficará motivado se enxergar que aquilo para que vai se esforçar tem uma finalidade clara para ele.
Reconhecimento também é essencial, é a coisa de que o jovem mais necessita. Ele precisa ser entendido como alguém importante, porque a questão autoral se tornou central. O profissional não quer mais ser tratado apenas como uma peça de uma grande máquina, ele quer ser autor de algo. É a mesma lógica da matéria assinada por um jornalista: aparece lá o nome dele, mesmo que seja pequenininho. No mundo do trabalho, o reconhecimento se tornou mais importante do que a própria sobrevivência.
EXAME.com – Quando falam sobre seus ideais de carreira, muitos jovens dizem que querem “fazer o que gostam”. Eles estão confundindo prazer e obrigação?
Mário Sérgio Cortella – Uma das melhores coisas da vida é fazer o que se gosta. Só um tonto vai querer fazer algo desagradável. O que não posso esquecer é que, para chegar ao resultado de que eu gosto, há várias etapas pelas quais eu passarei que serão desagradáveis. Sempre é necessário um desgaste para que você atinja um resultado.
Os nossos medalhistas de ouro na Olimpíada precisaram fazer várias coisas de que não gostavam para chegar ao lugar de que gostaram, que é o primeiro lugar do pódio. É preciso ter o prazer como uma das referências para o trabalho, mas não como referência exclusiva. Se não for assim, haverá muita tristeza e frustração.

EXAME.com – Por mais prazeroso que seja, qualquer trabalho implicará repetição e rotina. É possível ter uma rotina prazerosa, ou isso é um paradoxo?
Mário Sérgio Cortella – É possível sim. Rotina é simplesmente uma forma de organização do trabalho. Não devemos confundir rotina com monotonia. Todos os dias eu levanto cedo, vou para meu escritório, sento para escrever, dou palestras. É uma rotina, isto é, uma atividade organizada, estruturada. Ela não produzirá distração nem chateação, a não ser que vire monotonia.
Quando eu entro num avião, quero que o piloto siga a sua rotina, mas não quero que ele entre num estado de monotonia. A rotina será prazerosa se eu enxergar o resultado dela como prazeroso. Quando deixa de ser assim, vira monotonia. É quando eu não vejo a hora de ir embora, de deixar tudo para trás.
EXAME.com – O excesso de trabalho está roubando cada vez mais tempo do lazer e da convivência familiar. Num mercado tão competitivo, ainda é possível ter uma carreira de sucesso sem sacrificar a felicidade em outros âmbitos da vida?
Mário Sérgio Cortella – É evidente que você precisa se dedicar à carreira, mas não pode deixar que apenas um aspecto da vida obscureça todos os demais. É preciso buscar um equilíbrio entre as diversas faces da existência. E esse equilíbrio é igual ao necessário para andar de bicicleta: você precisa estar sempre em movimento para não cair.
Equilíbrio significa ser capaz de ir aos extremos sem se perder neles. Você pode ter uma alimentação equilibrada mas, de vez em quando, mergulhar com alegria numa garrafa de vinho, num churrasco. Mas não vai fazer isso todo dia, toda hora. Da mesma forma, quando as pessoas fazem cursinho pré-vestibular, elas não têm fim de semana, não têm balada, não têm nada. Mas ninguém vai passar o resto da vida fazendo cursinho, se não enlouquece.
Uma pessoa que passa o tempo todo obcecada pela carreira está adoentada. É preciso cautela, porque isso vai torná-la infeliz. Há momentos na vida em que você vai se dedicar mais aos filhos do que à sua carreira. Em outros, você precisará trabalhar por 12,13 horas por dia e ficará menos tempo com a família. O importante é não se perder nos extremos, mas saber transitar entre eles.
EXAME.com – Não vivemos numa cultura que incentiva os extremos?
Mário Sérgio Cortella – Sem dúvida. Existe a ideia de que sucesso significa trabalho contínuo, que você deve esquecer os outros aspectos da vida. Nossa cultura incentiva isso, suga as pessoas, vai exaurindo suas forças, transformando cansaço em estresse. O cansaço resulta de um esforço intenso. O estresse é quando você já não tem compreensão do que está fazendo.


No entanto, o que é imposto pela cultura não é obrigatório. É preciso andar na contramão dessa ideia e tentar buscar o equilíbrio entre as diversas faces da vida. Não é fácil, mas também não é impossível."
Disponível em: http://exame.abril.com.br/carreira/cortella-diz-qual-e-o-segredo-para-acordar-feliz-na-2a-feira/

quarta-feira, 1 de março de 2017

LIÇÕES DE LIDERANÇA DO FILME ESTRELAS ALÉM DO TEMPO

"1961. Em plena Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética disputam a supremacia na corrida espacial ao mesmo tempo em que a sociedade norte-americana lida com uma profunda cisão racial, entre brancos e negros. Tal situação é refletida também na NASA, onde um grupo de funcionárias negras é obrigada a trabalhar a parte. É lá que estão Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), grandes amigas que, além de provar sua competência dia após dia, precisam lidar com o preconceito arraigado para que consigam ascender na hierarquia da NASA".

O filme em cartaz "Estrelas além do tempo" possui aquela maravilhosa capacidade de nos provocar emoção e de nos fazer acreditar na capacidade de superação e de transformação do ser humano. Delicado e contundente ao mesmo tempo, nos faz refletir sobre questões, que há muito incomodam a humanidade, relativas à luta pela igualdade, ao respeito às diferenças e o poder transformador de uma mente determinada.

Mas não é só.  O filme nos surpreende também com valiosas lições de liderança, capazes de despertar em nós um espírito inconformista, provocar e imprimir o desejo por mudanças.

Passemos, então, a refletir sobre algumas dessas lições:

1) LÍDERES NÃO DEVEM SE DETER DIANTE DE LIMITES OU DIFICULDADES IMPOSTAS PELO SISTEMA

Na rotina das equipes de trabalho é muito comum nos depararmos com limites institucionais/organizacionais, os quais impedem ou dificultam a utilização de nossos talentos /habilidades na realização de nossas atividades e, nesses momentos é preciso que a liderança assuma uma postura de inconformista do bem.  Isto é, a liderança não pode se deter e precisa valer-se do inconformismo para traçar estratégias que levem a equipe a encontrar novos paradigmas que serão adotados na medida em que foram compreendidos como necessários ao seu aprimoramento.  Diante de uma ameaça, líderes não devem se acovardar, mas buscar novos recursos e habilidades.

2) LÍDERES SÃO COMPROMETIDOS COM MELHORIAS CONSTANTES, COM SEU DESENVOLVIMENTO E DA SUA EQUIPE  

Em um mundo de transformações constantes, líderes precisam adotar postura de eternos aprendizes.  Ninguém sabe tudo.  Nenhum conhecimento é suficiente.  Sempre haverá algo novo a ser apreendido.  Não existem modelos de sucesso que durem para sempre. Precisamos estar sempre atentos às mudanças para que possamos adequar nossos conhecimentos e habilidades às novas realidades e assim fazer frente às dificuldades, buscando superá-las com determinação e criatividade, evitando que membros da equipe sejam atingidos pela obsolescência.

3) LÍDERES ANTECIPAM-SE AO FUTURO 

Em meio a velocidade em que as mudanças vem ocorrendo em nossa sociedade, líderes não devem esperar que as mudanças ocorram para buscar novas estratégias, mas sim precisam se antecipar a elas, buscando novos conhecimentos e novos paradigmas para que os acontecimentos não surpreendam sua equipe, mas já a encontre preparada para os novos desafios. Na maioria das vezes é possível perceber que algo está mudando e em breve essa novidade irá nos atingir, então, não devemos esperar, mas precisamos nos movimentar em busca do novo antes mesmo que ele seja uma realidade para nós. 

4) LIDERAM PELO EXEMPLO

Qualquer que seja a situação, líderes precisam dar o exemplo. Nas equipes de sucesso, onde o clima organizacional é percebido como saudável e motivador e os resultados são excelentes, certamente a liderança exerce seu papel com maestria, estimulando seus parceiros de equipe a encontrar o seu melhor, motivando a todos ao desenvolvimento permanente, à superação das dificuldades, ao compartilhamento do conhecimento, exercício da criatividade e especialmente ao respeito às diferenças.  Isto significa que os líderes não podem descuidar de sua própria motivação e de seu compromisso com a qualificação permanente, garantindo habilidades e recursos novos para o exercício de suas funções com entusiasmo e energia positiva. 

5) LÍDERES SÃO LEAIS A SUA EQUIPE 

A liderança eficaz não pensa somente em si e seu próprio crescimento, mas identifica na sua equipe as suas habilidades e dificuldades e enquanto se desenvolve, fomenta a qualificação e o desenvolvimento de seus parceiros.  Não desejam o melhor somente para si, mas almejam a felicidade para todos, isto é, o nível de felicidade e de satisfação de seus liderados é tão importante quanto o seu.  Líderes de excelência produzem novas lideranças, abrindo caminhos, propiciando oportunidades de desenvolvimento e qualificação permanentes.

Por hoje é só.

Espero que possam assistir ao filme e refletir sobre as ideias aqui lançadas.  A vida é movimento e se quisermos atingir a excelência precisaremos nos desafiar, investir permanentemente em nossas habilidades e superar nossas precariedades.

Abraços e até a próxima!