SURPRESAS SÃO
A REGRA E A RESILIÊNCIA É A NOVA ARMA
Rosabeth Moss Kanter
Esta é uma descoberta fundamental da
minha pesquisa, atualizada constantemente, sobre grandes empresas e líderes
eficazes: ninguém pode evitar completamente problemas, e potenciais armadilhas
estão em todo lugar, então a verdadeira habilidade é a resiliência para sair do
buraco e se recuperar.
Épocas difíceis trazem rupturas,
interrupções e reveses, mesmo para os mais bem-sucedidos. Empresas de maior
êxito também enfrentam fases em que são surpreendidas pelo produto de uma
concorrente e precisam se mobilizar. Equipes esportivas que vencem com
frequência estão, muitas vezes, atrás no placar. Escritores podem passar por
dezenas de rejeições antes de encontrar um editor que os coloque no mapa.
Alguns políticos de sucesso são pegos com as calças na mão e ainda assim seguem
em frente até chegar a posições de liderança, embora essas manchas
autoinfligidas dificilmente sejam esquecidas.
Somente flexibilidade não é
suficiente. É preciso aprender com os erros. Aqueles que edificam a resiliência
sobre os alicerces da confiança: responsabilidade (assumir a responsabilidade e
demonstrar arrependimento), colaboração (apoiar os que buscam um objetivo em
comum), e iniciativa (concentrar-se nas etapas positivas e nas melhorias). Como
descrito em meu livro Confidence, esses fatores dão sustentação à
resiliência das pessoas, das equipes e das organizações – elas podem tropeçar,
mas voltam a vencer.
Para quem quiser ir além das
adversidades ou recomeçar em vez de desistir, os Estados Unidos são a terra da
segunda chance. De acordo com Jon Huntsman, antigo embaixador americano na
China, a capacidade americana de se recolocar de pé é uma qualidade amplamente
admirada pelos chineses. E, em todo lugar, recuperar-se de um desastre natural
é, cada vez mais, fundamental para uma economia forte. Empreendedores e
inovadores precisam estar dispostos a fracassar e tentar de novo. A questão não
é aprender a fracassar, mas sim a se recuperar. Alguns tropeços se devem a
fatores que fogem do controle da maioria das pessoas, como eventos climáticos e
confrontos geopolíticos. E embora as pessoas não possam controlar o problema
maior, controlam suas reações a ele – se vão desistir ou encontrar um novo
caminho.
A recessão na Europa é um exemplo.
Recentemente, falei para uma audiência europeia, em conferências públicas e em
empresas, sobre o cultivo da resiliência em seus negócios, mesmo quando o
mercado está encolhendo, para que consigam se manter enquanto a recessão
continua e estejam em boa situação para a recuperação. Uma empresa alemã de
maquinário demonstrou resiliência aumentando seus contratos de serviços quando
a demanda por máquinas diminuiu, o que mobilizou os empregados a buscar novas
possibilidades. Uma firma italiana de cosméticos arrebanhou talentos de
empresas multinacionais e aumentou sua propaganda de produtos de saúde e moda
em outros países, o que deu origem a novas vendas.
Nas duas empresas, e em outras que
pesquisei, tais iniciativas foram possíveis graças a um forte senso de
determinação que aproximou os funcionários e os motivou a assumir a
responsabilidade de auxiliar as empresas a sobreviver e a prosperar. Os
empregados eram resilientes porque gostavam da empresa, e isso a tornou
resiliente. Complacência, arrogância e ganância impossibilitam a resiliência.
Humildade e ideais nobres a alimentam. Aqueles com genuíno desejo de servir,
não somente vontade narcisista de chegar ao topo, estão dispostos a aceitar
menos, fazendo disso um investimento para conseguir coisas melhores no futuro.
Raymond Barre, ex-premiê francês,
depois de perder a reeleição, disputou a prefeitura de Lyon, uma cadeira mais
modesta, e se tornou um herói na região. É a mesma estratégia adotada por Eliot
Spitzer, que concorreu a um cargo bem menos importante depois de ter sido
governador do estado de Nova York. Logo que o escândalo sexual no qual esteve
envolvido veio à tona, Spitzer rapidamente demonstrou arrependimento e então
retomou a vida pública discutindo o assunto, o que aumentou suas possibilidades
de recuperação.
Dizem que para as mulheres a
recuperação é mais difícil. Ainda assim, pensemos no caso de Martha Stewart.
Ela cumpriu pena por inside trading elegantemente, demonstrando remorso,
e essa elegância fez com que conseguisse, depois, reconquistar muitos de seus
fãs.
A resiliência é extraída da força de
caráter, do cerne de uma série de valores que motivam esforços para superar
reveses e retomar o caminho do sucesso. Envolve autocontrole e capacidade de
reconhecer o próprio papel em uma derrota. A resiliência prospera quando existe
senso de comunidade – vontade de se levantar decorrente do sentido de obrigação
para com os outros e graças ao apoio daqueles que também querem atingir o mesmo
objetivo; manifesta-se em ações: uma contribuição nova, uma pequena vitória, um
objetivo que desvia a atenção do passado e cria uma expectativa em relação ao
futuro.
Problemas eventuais espreitam em toda
esquina e se originam de eventos naturais inesperados, fracassos ou erros
individuais. Seja qual for a origem, o que importa é a forma de lidar com eles.
Quando as surpresas são a regra, a resiliência é a nova arma.
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Rosabeth Moss Kanter é professora da Harvard Business School e presidente e diretora da Harvard Advanced Leadership Initiative.
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Rosabeth Moss Kanter é professora da Harvard Business School e presidente e diretora da Harvard Advanced Leadership Initiative.
Disponível em http://hbrbr.uol.com.br/surpresas-sao-a-regra-e-a-resiliencia-e-a-nova-arma/