Será que estamos vivendo na Era da Empatia?
Você tem a impressão de estar ouvindo a palavra “empatia”
com muita frequência e em todos os lugares? Você está certo! A palavra está na
boca de cientistas, líderes empresariais, educadores, ativistas políticos e
muito outros grupos. Mas ainda há uma questão que poucas pessoas perguntam:
como posso expandir meu próprio potencial empático?
A empatia não é apenas uma maneira de ampliar os limites
de seu universo moral. De acordo com novos estudos, a empatia é um hábito que
nós podemos cultivar para melhorar a qualidade de nossas
próprias vidas.
Mas o que é a
empatia, afinal?
Empatia é a habilidade de pisar com os sapatos de outra
pessoa. Em outras palavras, é visar e compreender os sentimentos e perspectivas
das outras pessoas, e usar essa compreensão para orientar as ações.
Empatia é diferente de bondade ou piedade. Também não a confunda com a Regra de Ouro:
“faça aos outros o que gostaria que fizessem com você”. Ou ainda como George
Bernard Shaw disse: “não faça para os outros o que gostaria que fizessem
para você — eles podem ter gostos diferentes”.A empatia é sobre se colocar no
lugar do próximo, viver a realidade do próximo. A empatia é
sobre descobrir esses diferentes gostos. O grande salto da empatia decorre de
uma mudança revolucionária na forma como entendemos a natureza humana. A velha
ideia de que somos criaturas essencialmente interessadas apenas em nós mesmos
mudou. Somos seres humanos conectados por empatia, cooperação
social e ajuda mútua.
Somos o Homo Empathicus.
O cérebro
empático
Ao longo da última década, neurocientistas identificaram
10 seções em cérebro que formam o “circuito da empatia”, que, se danificados,
podem restringir nossa capacidade de entender o que as outras pessoas sentem.
Os biólogos evolucionários mostraram que somos
animais sociais que evoluímos naturalmente em sociedade, cuidando uns dos
outros, assim como nossos ancestrais primatas.
Psicólogos revelaram que somos preparados para empatia
por nossas fortes relações de apego nos primeiros anos de vida.
Mas a empatia não para de se desenvolver na infância. Nós podemos nutrir esse
crescimento ao longo de nossas vidas — e podemos usá-la como uma força para a
transformação social.
Pesquisas em sociologia, psicologia, histórias e os
próprios estudos sobre personalidades empáticas nos últimos 10 anos revelam que
podemos fazer da empatia uma atitude diária e, dessa forma, melhorar a vida das
pessoas em nossa volta. Dito isso, confira os 6 hábitos de pessoas altamente
empáticas que separamos para vocês:
1 – Cultivar a
curiosidade sobre pessoas desconhecidas
Pessoas altamente empáticas possuem uma curiosidade
insaciável por estranhos. Eles conversam com a pessoa sentada ao lado no
ônibus, mantendo essa curiosidade natural que tínhamos quando crianças, mas que
a sociedade tira de nós. Eles acham as outras pessoas mais interessantes do que
eles mesmo, mas não questionam ninguém, sempre respeitam suas opiniões. A
curiosidade expande nossa empatia quando conversamos com pessoas fora do nosso
círculo social habitual, encontrando vidas e visões do mundo muito diferente
das nossas.
A curiosidade é boa para nós, é uma força de caráter
chave para aumentar a satisfação com a vida. E uma ótima cura para solidão
crônica que hoje afeta milhões de pessoas no mundo todo. Cultivar a curiosidade
requer mais do que um breve bate-papo sobre o clima. Crucialmente, é necessário
tentar entender o mundo dentro da cabeça de outras pessoas.
Nos deparamos com pessoas estranhas todos os dias,
desafie-se a conversar com um estranho ao menos uma vez por semana. Tudo que é
preciso é um pouco de coragem.
2 – Desafiar
preconceitos e descobrir pontos em comum
Todos nós fazemos suposições sobre as outras pessoas e as
rotulamos — por exemplo, “fundamentalistas religiosos”, “mãe solteira” — e isso
nos impede de apreciar suas individualidades. Pessoas altamente empáticas
desafiam seus próprios preconceitos procurando o que compartilham com as
pessoas, não o que as dividem.
3 – Tentar
viver a vida de outras pessoas
Você acha que escalar uma montanha de gelo ou pular de
asa delta são esportes muito radicais? Então você precisa tentar a empatia
experiencial, a mais desafiadora — e gratificante — de todas
elas.
Pessoas altamente empáticas expandem sua empatia ganhando
experiência direta da vida de outras pessoas, colocando em prática um provérbio
americano que diz “caminhe uma milha nos mocassins de outro homem antes de
criticá-lo”.
George Orwell é um modelo
inspirador. Depois de vários anos trabalhando como policial na Birmânia
britânica, na década de 20, Orwell voltou para o Reino Unido determinado a
descobrir como era a vida daqueles que viviam marginalizados. “Eu queria
submergir, descer entre os oprimidos”, escreveu Orwell. Então ele se vestiu
como um morador de rua, com sapatos e casacos surrados e passou a morar nas
ruas do leste de Londres, junto com outros mendigos. O resultado, escrito em seu livro “Na Pior em Paris e Londres”
mudou radicalmente suas crenças, prioridades e relacionamentos.
Ele não só percebeu que as crianças sem-teto da época não
eram “bêbados canalhas”, mas também desenvolveu novas amizades, mudou sua visão
sobre a desigualdade e reuniu um material literário excelente. Foi a melhor
experiência de sua vida. Ele percebeu que a empatia não apenas o faz bem para
os outros — ela também é boa para você.
Cada um pode conduzir suas próprias experiências. Se você
é um observador religioso, experimente conhecer a fé de pessoas de diferentes
religiões. Se você é ateu, tente participar de reuniões de diferentes igrejas. Passe
suas próximas férias se voluntariando em uma país em desenvolvimento, ou ainda
em regiões subdesenvolvidas de seu próprio país. Lembre-se que toda educação
genuína bem por meio da experiência.
4 – Ouça
bastante — e se abra
Há dois traços necessários para ser um conversador
empático. Um deles é dominar a arte da escuta. Isso é essencial, é nossa
capacidade de estar presente no que está realmente acontecendo com as outras
pessoas, entender os sentimentos e necessidades únicas que eles estão
experimentando nesse exato momento.
Pessoas altamente empáticas escutam as demais e fazem
tudo o que podem para conseguir entender seu estado emocional e necessidades, seja
de um amigo que acaba de ser diagnosticado com alguma doença ou um cônjuge que
está chateado por trabalhar até mais tarde. Mas apenas escutar não é o
suficiente. A segunda característica é saber se abrir.
Remover nossas máscaras e revelar nosso real sentimento a
alguém é vital para criar um forte vínculo de empatia. A empatia é uma rua de
mão dupla que, na melhor das hipóteses, é construída com base no entendimento
mútuo — uma troca de nossas mais importantes crenças e experiências.
Organizações como o Círculo de Pais Israelense-Palestino
colocam tudo isso prática, reunindo família de ambos os lados do conflito para
conversarem e compartilharem histórias. Compartilhar histórias fez com que eles
percebessem que sofriam da mesma dor, apesar de estarem de lados opostos de uma
luta política. Isso os ajudou a criarem um dos movimentos pacifistas mais
poderosos de todo o mundo.
5 – Inspirar
ações em massa e mudanças sociais
Normalmente, nós assumimos que a empatia ocorre no nível
dos indivíduos, mas as pessoas extremamente empáticas entendem que a empatia
também pode ser um
fenômeno de massa que traz mudanças sociais fundamentais. Basta
pensar nos movimentos contra a escravidão que ocorreram nos séculos 18 e 19,
dos dois lados do Atlântico. Como jornalista, Adam Hochschild lembra: “Os
abolicionistas colocaram sua esperança não em textos sagrados, mas na empatia
humana”.
Eles fizeram tudo o que puderam para que as pessoas
compreendessem o sofrimento nas plantações e nos navios negreiros. Do mesmo
modo, o movimento sindical surgiu da empatia entre trabalhadores industriais
unidos pela exploração compartilhada. A resposta pública ao tsunami asiático de
2004 surgiu de um senso de preocupação empática com as vítimas.
A empatia provavelmente irá florescer em escala coletiva
se as sementes forem plantadas em nossas crianças. É por isso que pessoas
extremamente empáticas se esforçam para tal, como exemplo temos o “Roots of
Empathy”, programa de ensino de empatia mais eficaz do planeta, que já
beneficiou mais 500 mil crianças.
O foco do ensino é a inteligência
emocional — e seus resultados incluem declínios significativos
no bullying e níveis altíssimos de conquistas acadêmicas. Além da educação, o
grande desafio é descobrir como as redes sociais podem aproveitar o poder da
empatia para crianças para criar uma ação política de massa. O Twitter pode ter
levado pessoas às ruas para ocupar Wall Street e durante a Primavera Árabe, mas
também convencer-nos a cuidar profundamente das pessoas distantes de nós.
Sejam eles agricultores atingidos pela seca africana, ou
futuras gerações que sustentarão nosso estilo de vida e emissão de carbono.
Isso só acontecerá se as redes sociais aprenderem a espalhar uma conexão mais
empática, além de informação.
6 – Desenvolver
uma imaginação ambiciosa
A característica final das pessoas extremamente empáticas
é que eles fazem muito mais do que sentir empatia pelos “habituais suspeitos”.
Sentir empatia por aqueles que vivem às margens da
sociedade ou que sofrem é necessário, mas não é o suficiente. Nós também
precisamos ter empatia com as pessoas de crenças diferentes e dos “inimigos”. Se
você é um ativista do aquecimento global, por exemplo, vale a pena tentar se
colocar no lugar dos executivos de uma empresa petrolífera.
Entender seus pensamentos e motivações é o primeiro passo
para desenvolver estratégias efetivas para convencê-los da importância da energia
renovável. Um pouco dessa “empatia instrumental” pode fazer com
que você chegue muito longe. Ter empatia pelos adversários também é um caminho
para tolerância social. Esse foi o pensamento de Ghandi durante os conflitos
entre muçulmanos e Hindus. Uma vez Ghandi declarou: “Eu sou muçulmano! E hindu,
cristão e judeu”.
As organizações devem ser ambiciosas com seu pensamento
empático também. Bill Drayton, o “pai do empreendedorismo social” acredita que
em uma era de mudanças rápidas, dominar a empatia é a principal habilidade de
sobrevivência de um negócio. Isso porque a empatia sustenta o trabalho em
equipe e a liderança de sucesso. Sua influente Fundação Ashoka lançou a
iniciativa Start Empathy, que está alastrando suas idéias para líderes
empresariais, políticos e educadores ao redor do mundo. O século 20 foi a era
da introspecção, quando a cultura de auto-ajuda e terapia nos levaram a
acreditar que a melhor maneira de entender quem somos e como viver a vida era
olharmos para dentro de nós mesmo.
Mas isso nos deixou olhando apenas para o próprio umbigo.
O século 21 deve se tornar a era da empatia, quando passaremos a nos descobrir
não apenas por auto-reflexão, mas também por nos interessarmos realmente pela
vida dos outros.
Precisamos da empatia para criar um novo tipo de
revolução. Não uma revolução antiquada, baseada
em novas leis e instituições, mas sim uma revolução nas relações humanas.
Este artigo é uma tradução do Awebic do texto
originalmente publicado em Conscious Reminder.
Disponível em https://awebic.com/humor/habitos-pessoas-empaticas/
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