TALITA
DANTAS
CNV – O que não é, o que é
Ao
contrário do que muita gente acredita, Comunicação Não-Violenta (CNV), método
criado por Marshall Rosenberg, não tem necessariamente a ver com falar
baixinho, procurar sempre agradar ou sempre ceder.
Em
verdade, é um modo de melhor alcançar a satisfação dos interesses de
ambas as partes envolvidas num conflito ou negociação. Mais que um método, é
uma maneira de viver, uma proposta de conexão autêntica, conosco mesmos (nível
intrapessoal); com os outros (nível interpessoal); com o mundo ao nosso redor
(nível sistêmico, nosso relacionamento com as instituições).
PRESSUPOSTOS DA CNV
Em
essência, nós já sabemos nos comunicar não-violentamente, porém fomos educados
a fazer o contrário. Ou seja, para a CNV, a generosidade, o dar naturalmente, é
o estado natural do ser-humano. Todavia, temos o hábito de nos comunicar de
modo violento. Isso porque fomos ensinados a competir pela razão, a
jogar um jogo moralista que envolve punição e recompensa. Dessa forma, perdemos
de foco a felicidade e brigamos para estarmos certos, em vez de concentrar
nossas forças em tornar a vida mais maravilhosa.
Nesse
jogo, perdemos a conexão uns com os outros e maximizamos a infelicidade. Todos
saem perdendo. Partimos da premissa equivocada de que quem está errado merece
ser punido e, sendo violentos, geramos ainda mais violência.
PRIMEIRO PASSO – AUTORRESPONSABILIDADE
Para
mudar o jogo, é preciso mudar a perspectiva. E o primeiro passo em direção a
isso é a autorresponsabilidade, a admissão de que sempre temos escolha.
Nosso sistema atual, com suas propostas burocráticas e hierárquicas, facilita a
atribuição da responsabilidade sobre o que decidimos e sentimos a terceiros.
“Fiz isso porque meu chefe mandou”, “porque ele me provocou”, “porque todo
mundo faz”… Você pode até não gostar das escolhas que se apresentam. Pode ser
que nenhuma delas pareça melhor que a(s) outra(s), mas isso não significa que a
escolha não exista e que você é obrigado a algo.
Assim,
escolher não fazer o que o chefe mandou pode não me ser atrativo, pois pode me
custar o emprego ou a promoção. No entanto, é preciso ter em mente que sou eu
quem está escolhendo agir em consonância com o que me está sendo pedido ou
ordenado.
O PERIGO DE NOS ISENTARMOS DE NOSSA
RESPONSABILIDADE.
Em seu
livro, “Scrum, a arte de fazer o dobro do trabalho na metade do tempo”, num
raciocínio que vai ao encontro daquele proposto pro Marshall, Jeff Sutherland,
relata experiência realizada por Milgram em 1974, a que se refere o artigo “The
Perils of Obedience [Os perigos da obediência]”, no qual estudantes
universitários, induzidos a acreditar que faziam parte de um experimento, davam
choques num ator, mesmo diante de demonstrações de dor e sofrimento, até que
ele encenasse a própria morte, apenas em virtude das ordens recebidas de alguém
que se passava pelo cientista condutor da pesquisa. “Faz parte do experimento e
você deve continuar”.
Para
Marshall, nos tornamos incrivelmente perigosos quando nos desvencilhamos
da responsabilidade por nossos atos. Um claro exemplo disso é o holocausto
nazista, em que os generais afirmavam que seus atos decorriam apenas de ordens
superiores, ou seja, não tinham escolha (supostamente).
Em CNV,
buscamos admitir nossa responsabilidade pelo que escolhemos e sentimos. Imputar
ao outro a responsabilidade por nossos sentimentos é tido como um ato de
violência
SEPARE FATO DE OPINIÃO
A
autorresponsabilidade pressupõe algo inicialmente difícil, separar fato de
opinião. O que é muito semelhante à proposta
de Ury no tocante a separar as pessoas do problema e já denota
a proximidade entre a abordagem proposta por um e outro autores. Devemos julgar
não as pessoas, mas que necessidades são ou não necessidades.
ENTENDA O SENTIMENTO E A NECESSIDADE
Observado
o fato, procuramos compreender o que sentimos quando ele ocorre, a fim de
identificar que necessidades nossas clamam por atenção naquele momento. Nesse
ponto é crucial discernir o que é sentimento e o que é julgamento, uma vez que
os sentimentos podem nos conectar ou distribuir mais violência. “Eu me sinto
assim, porque você…”, “você me faz sentir” são expressões violentas. Em vez
delas, procuramos chamar a responsabilidade para nós mesmos, uma vez que não
temos condições de saber com exatidão o que os outros pensam ou sentem. Dessa
forma, expressões adequadas seriam: “Quando eu vejo/ouço … eu sinto … porque eu
preciso de …”.
Evidenciados
os fatos, sentimentos e necessidades, podemos só então passar para o pedido,
que nada mais é que a estratégia que escolhemos para alcançar nossas
necessidades. É muito importante que essas duas coisas não se confundam, já que
uma estratégia é apenas uma das maneiras por meio das quais podemos alcançar a
satisfação de nossas necessidades. Uma e não “a” maneira. Ou seja, é preciso
estar aberto a possibilidades outras.
Pedidos
devem ser claros e devem expressar uma ação positiva. Assim, dizemos aquilo que
queremos em vez daquilo que não queremos. Isso porque a expressão do que não
queremos não deixa evidente o que queremos, além do que, a tentativa de
livrarmo-nos de algo torna atraente a violência.
PEÇA EM VEZ DE EXIGIR
Outra
distinção importante de Marshall Rosenberg é a que separa pedido de exigência.
Um pedido implica necessariamente a possibilidade de aceitarmos que o outro
também tem seus sentimentos e necessidades e pode não estar disposto a fazer
naquele momento aquilo que estamos solicitando. Nesse contexto, é importante
não nos vitimizarmos ou emburrarmos a fim de coagir o destinatário do pedido a
uma aceitação manipulada, típica do sistema de punição e recompensa, pautada
num sentimento de culpa. Isso é equivalente a dizer “ou você faz o que eu digo
ou você será o responsável pela minha mágoa”.
Você pode
sentir-se chateado porque sua estratégia preferida não funcionou. Só não pode
pretender imputar ao outro a responsabilidade por um sentimento seu. Em
verdade, espera-se que o outro apenas faça o que lhe está sendo requerido se
puder fazê-lo com a “alegria de uma criança a alimentar um pato”. Enquanto as
pessoas ouvirem nossos pedidos como exigência, enquanto não se
compreenderem livres para aceitar ou não, sem medo de serem punidas, elas só têm duas opções: submissão ou rebelião.
compreenderem livres para aceitar ou não, sem medo de serem punidas, elas só têm duas opções: submissão ou rebelião.
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