O que a revolução copernicana da pedagogia pode ensinar sobre liderança
O filósofo Jean-Jacques Rousseau, nascido em Genebra em 1712, teve uma vida conturbada. Andou por diversos lugares, casou várias vezes, fez aliados e inimigos na mesma proporção. Não se pode dizer que foi um homem comum – suas idéias sobre a política, por exemplo, anteciparam o ideário da Revolução Francesa. Rousseau também foi um pensador sobre a educação e escreveu um livro chamado Emilio, em que sugeriu uma nova postura aos educadores que ficou conhecido como a “revolução copernicana da pedagogia” – um nome complicado para uma teoria interessantíssima.
Assim como Copérnico, que propôs um novo modelo astronômico, retirando a terra do centro do universo, colocando-a a girar em torno do sol, Rousseau mudou o centro de interesse da pedagogia, propondo que o professor “gravite” em torno do aluno, e não o contrário.
Em outras palavras, o professor existe porque existem alunos, que são a razão de sua existência. A arrogância seria uma das principais causas da falta de interesse dos alunos com o aprendizado. Mas, afinal, o que isso tem a ver com liderança que será o tema da minha palestra na Career Fair? Pois bem, nas empresas às vezes a situação é bastante parecida com o que acontece quando um professor arrogante está lecionando. Ou seja, os chefes esquecem que eles existem porque há pessoas a serem lideradas, e que estas são a razão de sua existência como líder.
Quem já trabalhou com um chefe dotado de personalidade centralizadora sabe o que é se sentir menor, encoberto por sua sombra, inexpressivo e irrelevante diante da dimensão de seu líder. Será que alguém consegue sentir-se motivado ao mesmo tempo em que se sente secundário no time? Eis uma tarefa importante para o líder consciente: fazer com que a equipe sinta que está trabalhando com ele e não para ele. Isso ajuda a criar um sentimento de importância de si mesmo e de seu trabalho. Isso mantêm a moral da equipe alta. Simples, mas não fácil.
Lembro-me de um amigo que trabalhava ao lado de um líder empresarial importante, responsável pela recuperação de uma organização que quase falira e que foi salva da derrocada pela mão firme desse homem. Quando eu lhe perguntei como era trabalhar ao lado de uma figura tão carismática e já lendária, a resposta foi cura e grossa: “sufocante!”.
Dá para ser produtivo, manter a motivação e comprometer-se de verdade, quando você trabalha ao lado de alguém “sufocante”? Muitos líderes com essa personalidade conseguiram resultados espetaculares e entraram para a história, mas destruíram equipes ao logo de suas carreiras. É um preço alto demais, apesar de haver os defensores de que os fins justificam os meios. Este último argumento perde força quando percebemos o quanto é difícil a construção de um boa equipe. Um time em que a competência, atitude e motivação caminham juntas. Você tem uma equipe vencedora? Cuide dela, pois este é um patrimônio, sem o qual não há planejamento estratégico que resista.
A pedagogia rousseauniana despreza o conhecimento transmitido e prefere o estímulo ao pensamento. Seu equivalente na liderança significa substituir a obediência cega às ordens pela proatividade – alimentada pela motivação e pelo comprometimento dos liderados. Este é um dos princípios da liderança educadora que merece toda nossa atenção porque ela se alimenta de experiências que já deram muito certo em momentos importantes da história humana.
Texto publicado sob licença da revista Você s/a, Editora Abril.
Disponível em http://www.eugeniomussak.com.br/o-lider-educador/
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