domingo, 20 de outubro de 2013

SE A GENTE NÃO EXISTISSE, QUE DIFERENÇA FARIA?

Mario Sergio Cortella e as lições para uma vida instigante


Em palestra para servidores no auditório Dois Candangos, o filósofo listou três elementos fundamentais para encontrar a felicidade no trabalho: coragem, capricho e vitalidade


“A vida é muito curta para ser pequena”. A mensagem vem de um homem de mais de um metro e oitenta centímetros de altura, barba robusta com falhas brancas, sorriso permanente, terno preto e bem cortado. Em 60 minutos, em pé e com microfone na mão, Mario Sergio Cortella ensinou um grupo de pouco mais de 60 servidores e estudantes a manter uma vida empolgante. O filósofo que acumula experiência de 35 anos de ensino e pesquisa na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo defende que “já basta a vida ser curta”. “Ao menos, que não seja pequena”, emenda.
O filósofo defende três virtudes para fazer com que a vida não seja inútil, fútil nem vazia. Coragem, capricho, vitalidade. “Para que a vida seja pequena, basta perder a coragem”, afirma. “É preciso ânimo para frequentar uma universidade, realizar um trabalho, constituir família, ser decente”, 
Professor titular do Departamento de Fundamentos da Educação e da Pós-Graduação em Educação da PUC, Mario Sergio diferencia trabalho de emprego. “Emprego é fonte de renda, trabalho é fonte de vida, aquilo que você faria até de graça”, define. E dá uma lição de ânimo aos servidores desmotivados com a função que exercem e os baixos salários, considerado por ele os principais problemas enfrentados pela categoria. “Os funcionários prestam um trabalho de imensa relevância social. Sem eles, a atividade acadêmica seria impossível. Mas alguém precisa contar isso a eles. Há uma falha que é nossa, administrativa”, disse.
Para Mario Sergio, coragem não é a ausência do medo. “Coragem é a capacidade de enfrentar os temores”, defende o autor de mais de 13 livros, admirador de Darcy Ribeiro e Rubem Alves, que considera “duas grandes inteligências e dois grandes servidores públicos” e aluno de Paulo Freire. E lança uma provocação. “Você tem medo de cachorro?”, indaga a uma estudante. “Ótimo que tenha. Significa que nunca será mordida, mas será que tem coragem de enfrentar o cachorro?”.
A indagação tem propósito motivador. Mario Sergio lembra que medo é diferente de pânico. “Medo é o que te deixa em estado de alerta”, define. “Pânico é o que te paralisa, é a incapacidade de ação”, acrescenta, provocando gargalhadas ao relatar histórias sobre seu medo de cobra e seu pânico de baratas. “Quem diz que não tem medo, não é corajoso. Pelo contrário, é inconsequente, vulnerável”, acrescenta, lembrando Aquiles, o personagem histórico que morreu na Guerra de Tróia “porque achou que era invulnerável”.
EPITÁFIO – Para Mario, além de coragem, é preciso vitalidade. “Vocês conhecem gente morna?”, pergunta Mário Sergio à plateia. “Morna no trabalho, morna no casamento, morna na família”, explica. “Como qualquer pessoa morna, servidor morno tem um trabalho morno”, avisa. E em tom quase profético anuncia aquilo que ele mesmo define como o óbvio: “Nós vamos morrer”. E aí mais uma provocação. “A questão é: quando você for, o que vai deixar? Então, não espere pelo epitáfio”, afirma, fazendo referência a um de seus 13 livros, o que leva o título “Não espere pelo epitáfio...”.
Para não esperar pelo epitáfio e garantir que a vida não seja vazia, pequena e superficial, Mario Sergio sugere criar raízes que o mantenham vivo mesmo depois da morte. “Só há um jeito de ficar e é na história que construí, nas amizades que conquistei, nas obras que deixei”, afirma. Ele lembra, entretanto, que para garantir uma boa história de vida é preciso não ser medíocre. “Gente assim é que fica na média”, define. Mario Sergio defende uma vida pautada pelo capricho. “Capricho é a capacidade de fazer o teu melhor nas condições que você tem”.
Mario Sergio recomenda palestras de esclarecimento sobre o trabalho e motivação pessoal. “Vamos exercitar uma reflexão com os próprios servidores com a seguinte pergunta: se a gente não existisse, que diferença faria?”, propôs. Para a secretária de Recursos Humanos da UnB, Gilca Starling, a palestra foi valiosa. “Queremos tirar os servidores do estado morno, mostrar quem eles são”, disse. A diretora de Capacitação da Secretaria de Recursos Humanos, Fátima Brum, defendeu a criatividade como uma forma de estimular a vivacidade defendida por Mario Sergio. “A criatividade é capacidade de ir além do óbvio”, disse.
Quem é Mario Sergio Cortella
Mario Sergio graduou-se em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira, em 1975. É mestre e doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é professor-titular do Departamento de Fundamentos da Educação e da Pós-Graduação em Educação da PUC-SP, na qual está desde 1977, tendo nela atuado por 32 anos no Departamento de Teologia e Ciências da Religião. É também membro do Conselho Técnico Científico Educação Básica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário